Mil e uma histórias
sábado, março 22, 2003:
Escritores
Gosto de ouvir os escritores quando falam do seu ofício. Quanto aos livros, gosto mais de ouvir falar os leitores. O escritor conhece, e é muitas vezes o único, as circunstâncias em que o livro foi escrito, e sobre isso poderá falar, se quiser, mas fará sempre bem em ficar calado sobre o próprio livro, por muitas razões e mais uma.
— A mensagem do seu mais recente romance é sem duvida a evidência de que a imaginação domina a realidade através do exorcismo da palavra.
— (...)
— É extremamente significativo que a personagem principal tenha perdido a capacidade de falar, de comunicar. Não concorda comigo?
— (...)
luis ene // 19:19
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sexta-feira, março 21, 2003:
pequenas histórias
mais uma (à Paz)
Dona Morte estava sentada, muito tranquila, a beber chá verde e a ver a sua novela preferida, mas as últimas notícias em directo invadiram novamente o ecrã sem dar cá aquela palha. Há dois dias que era sempre assim e não havia nada a fazer. Ou talvez houvesse! Levantou-se e saiu de casa com um sorriso matreiro. Do clube de vídeo mais próximo trouxe, mais uma vez, o seu filme preferido: E tudo o vento levou. É sabido que Dona Morte teve sempre um fraquinho pelo Clark Gable, chegando a afirmar que ele teria dado um excelente Presidente dos EUA.
luis ene // 10:46
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livros
escritores
Os livros são objectos com um corpo e um espírito, tal como os seus autores, e talvez tenham também um pequeno coração de papel a pulsar a páginas tantas.
A frase anterior faz parte de algo que estou ainda a tentar escrever. Não sei quanta verdade existe nela, mas, quando a reli um destes dias, recordei-me imediatamente de um pequeno texto que escrevi com a intenção de abrir o romance A justa medida, e que acabou afinal por aparecer apenas a páginas tantas, lá bem para o meio do livro.
É difícil iniciar, assim como é difícil continuar. No entanto, a primeira acção, onde tudo começa, parece desencadear as seguintes, como se tudo estivesse já destinado a acontecer, ou tivesse já ocorrido, como quando se lê um romance. Mas onde tudo começa e acaba, é bem mais difícil de determinar na vida do que nas páginas de um livro; este separa-se do autor, que a ele não regressa, e não se deixa possuir pelo leitor, que apenas o atravessa: é uma ponte que não une duas pessoas mas apenas marca o antes e o depois, da escrita e da leitura. Os factos e acontecimentos vividos assinalam sempre um antes e um depois. Atravessamos a vida à medida que dela nos separamos.
O nascimento e a morte marcam o início e o fim de uma vida, entre estes dois marcos, enunciados lado a lado, estranhamente próximos, nada parece existir. Nasceu em 3 de Abril de 1960 e faleceu em 10 de Junho de 1999; desta forma elíptica a vida desaparece no intervalo entre duas datas. Pode-se depois encher o vazio assim criado, a pouco e pouco, juntando factos, datas, emoções, mas haverá sempre um antes e um depois, intermináveis começos e fins que se entrelaçam, construindo uma tessitura única.
Não tive muito a ver com o facto de o livro ter começado de maneira diferente da prevista, aconteceu assim, mas a verdade é que já várias pessoas me disseram que gostaram muito do princípio! Pela minha parte, confesso que fiquei muito contente por aquele pequeno texto ter encontrado afinal um lugar no romance.
luis ene // 09:35
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um conto
“A história da cantora de jazz...”, “Espaço duplo” e este “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” são contos inseparáveis: quando aqui coloquei um, sabia que os outros não tardariam a se lhe juntar. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” foi escrito há dois anos numa Oficina de Escrita dirigida pelo António Manuel Venda. A frase que o inicia é na verdade uma citação, a mesma com que Almeida Faria começa o seu romance O Grande Conquistador. Realidade e ficção, qual é a diferença quando se tornam memórias? Pareceu-me então uma boa pergunta, ainda sinto o mesmo!.
Acreditei durante muito tempo ter vindo ao mundo de um modo diferente de toda a gente, isto posso dizer-vos! Mas o que é acreditar? O que é o tempo? Não estranhem começar assim, sempre fui dado a levantar questões inúteis. É a minha queda para a filosofia! Acreditar é crer? Acreditamos porque queremos acreditar? Ou será porque disso temos absoluta necessidade? Acredita-se em Deus, um qualquer deus, da mesma forma que se acredita na evidência, tantas vezes ardilosa, quer dos sentidos quer até da ciência? E o tempo? Parece tão simples. Presente, passado, futuro. Ontem, hoje, amanhã. E no entanto... quanto se escreveu já sobre o assunto! E ainda mais se escreverá! Acreditei durante muito tempo... é verdade!
— Todos os meninos têm um pai e uma mãe.
— O teu pai morreu!
— E a minha mãe?
— Não tens mãe!
— Também morreu?
— Já te disse vezes sem conta que não tens mãe!!
— Mas todos os meninos têm mãe, viva ou morta!
— Não me maces mais!
— Mas como é que eu nasci sem uma mãe?!
— Não tens mãe, nunca tiveste. Chega! Vai para o teu quarto! Vai!! Desanda daqui!!
Muito tempo depois, explicaram-me que quando nasci era de lei registar os filhos de pais solteiros com o nome do pai e com a indicação de “mãe incógnita”. Eu já sabia nessa altura a verdadeira história do meu nascimento. A minha mãe morrera durante o parto. O meu pai suicidara-se dias depois. Um amor proibido encontrara o seu desfecho funesto. Quando não sabemos, quando algo nos é escondido, a imaginação apressa-se a preencher o espaço em branco. A imaginação tem horror ao vazio, deixe-se-lhe espaços em branco e logo ela os invade e os conquista. Realidade e ficção, qual é a diferença quando se tornam memórias?
“Quando são atacadas, algumas lagostas produzem um som parecido com o violino, para se defenderem dos predadores. Esta é a conclusão de um estudo levado a cabo por...“
Acreditei durante muito tempo que era diferente de toda a gente, como se fosse o único de uma espécie, a minha espécie. Somos todos diferentes, somos todos iguais, somos humanos. Mas a dúvida estava precisamente aí: seria eu humano? Assaltavam-me emoções confusas, de contornos muito vagos. Eu julgava-me especial, não melhor ou pior do que os outros, mas especial da mesma forma que os sonhos também o são, por acontecerem noutra dimensão da existência. Era um estado de espírito ao mesmo tempo amargo e doce. Adoçava-me as noites mas amargava-me os dias. Agora eu sei que sou igual a toda a gente: humano, imperfeito, mortal.
— Este rapaz vive no mundo da lua. Não sei o que vai ser dele!
— Ou poeta... ou louco.
— Não brinques com coisas sérias!
— É um rapaz como os outros.
— Pensa demais. Onde já se viu uma coisa assim?! Não pára de fazer perguntas. São umas atrás das outras! Perguntas estranhas, estranhíssimas!!
— Quem te ouvir falar, ainda vai pensar que o rapaz não é normal.
— Teve um nascimento triste, só pode ter uma triste vida!
— Cala essa boca! Não vaticines desgraças, que podes ser atendida!
— Lagarto! Lagarto! Lagarto!
“Pelo menos cento e trinta pessoas morreram e uma centena ficou ferida na sequência de distúrbios nas bancadas de um estádio de futebol na...”
Acreditei durante muito tempo que a verdadeira revolução haveria de chegar mais dia menos dia. Tinha treze anos quando o 25 de Abril aconteceu, e o meu mundo transformou-se por completo. Não vou descrever o que senti. Ou viveram essa época e sabem do que falo, ou não a viveram e então talvez nunca venham a saber. Reforma agrária; colectivização; a terra a quem a trabalha; o povo unido jamais será vencido; pão, paz, habitação, trabalho... Quantas palavras plenas de esperança, quantas palavras de ordem inadiáveis! Ainda as ouço, ainda me emociono, mas o sonho não se tornou realidade. No entanto, à minha volta tudo se transfigurou. Eu transfigurei-me também. Hoje, digo-me um homem de esquerda, sinto-me de esquerda, mas já não sei bem o que isso significa. Para toda a gente, para mim e para os outros.
— Pequeno burguês radical de fachada socialista, isso é que tu és!
— Vai mas é à merda, pá! Ainda ontem te calavas e ajoelhavas, agora andas de punho erguido a gritar chavões.
— Conversa de intelectual, isso é que é. Mais não se pode esperar de quem só usa as mãos para escrever!
— Vê lá se te vou mas é aos cornos! Com estas mãos, com estes punhos!
— Experimenta! Experimenta lá se és capaz!! Bem que gostava de ver o que vale um intelectual de trazer por casa!
— Vai mas é ler Marx, social fascista da treta!
— Com gajos como tu não se fazem revoluções! Só sabem falar, pensar, reflectir...
— E com filhos da puta como tu, que pensam que sabem tudo, com filhos da puta como tu só se pode chegar é a ditaduras!
“As turmas do ensino básico e secundário, salvas raras excepções, não vão ter mais de vinte e oito alunos, anunciou...”
Acreditei durante muito tempo que podia amar. E que podia ser amado. A felicidade, a felicidade suprema aconteceria então, de um modo natural. Não sei quem é que disse, mas alguém foi: numa relação amorosa existe a pessoa que ama, existe a pessoa que é amada, e também existe o amor. Nunca percebi bem esta configuração triangular, e muito menos o seu significado, mas de cada vez que me lembro do amor lembro-me também da frase e do enigma que teima em não revelar. Será o amor uma entidade separada de quem o gera e suporta? Será que o amor existe para além dos amantes e dos amados? Sei lá! Que o amor pode viver sem o objecto amado e que dele não precisa, pois pode inventá-lo, isto li num soneto e acredito.
— Mas eu amo-te!
— Não me amas. Não acredito em ti!
— Amo-te!
— Acreditas no amor, mas não me amas de verdade. Apenas pensas que sim!
— Não te percebo!
— Queres amar, precisas de amar, mas não te interessa quem. Qualquer uma serviria para satisfazer o teu desejo de amar.
— Não dizes coisa com coisa.
— Não me amas!
— Amo-te.
— Falso!
— Amo-te muito!
— Sonso.
“O Programa da Inovação, anunciado pelo primeiro-ministro, está a revelar-se um verdadeiro quebra-cabeças...”
Acreditei durante muito tempo no poder infinito da palavra — no princípio era o verbo! Li e ouvi muito, com atenção, com emoção, rendido às palavras. Através delas descobri incontáveis verdades. Verdades simples e claras que se me revelaram com uma luminosidade intensa e hipnótica, incendiando-me a inteligência e o sonho. No entanto, pouco a pouco, de um modo insidioso, fui começando a duvidar que tais palavras e tais verdades pudessem influenciar a realidade. Afirmar uma verdade não altera a realidade: esta não lhe obedece, nem sequer a imita! Pertencerá a magia das palavras ao domínio dos sonhos? Será a sua eficácia no mundo real uma mera ilusão?
— Mas porque é que vocês são contra Alqueva?
— Meu português pouco bom, desculpa. Ler panfleto. Um número incontável de serres descontinuará a existir. Os animais têm alma, só que não sabem falar, ni chorar e muitas vezes não podem gritar. Tal como nós, todos eles têm um direito à vida.
— Mas vocês nem portugueses são! O que é que esperam alcançar? Quem vos vai escutar? Vocês acreditam realmente que alguém se importa?
— Nós importamos. Escuta. Portugal é um país onde por meio da revolução dos cravos já uma vez a população se defendeu com sucesso contra um governo de poucos, contra a ditadura do capital, dos latifundiários e do estado. Agora uma nova revolução deveria seguir à dos cravos, para a conservação da vida e a favor de uma comunidade entre humanos e natureza, ausente de violência. Lugares de destruição já tem suficientes. Agora necessitamos de lugares de curamento. Toma panfleto. Levar para ler e passar.
“Nada se sabe ainda sobre o homem que na madrugada de hoje se barricou no posto de turismo instalado no Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo. Suspeita-se que esteja armado e que tenha consigo material explosivo. Na parede do convento, como se pode ver agora nas imagens, de novo em directo, o barricado escreveu: ‘Daqui não saio, daqui ninguém me tira, até Alqueva parar.’ Continue connosco, para ficar a saber mais sobre...”
Acreditei em todas estas coisas durante muito tempo. Inteiramente, sem reservas. Em algumas talvez ainda acredite, um pouco, sei lá!? Mas agora, do mesmo modo, com a mesma intensidade, apenas acredito na morte. Libertadora, inevitável. Mors certa est, hora incerta, alguém gravou num antigo relógio de sala, ignorando os suicidas loucos de amor, loucos de justiça ou simplesmente desesperados. Todos eles aflitos para assentar a hora certa da sua própria morte na agenda sempre tão incerta da vida. Seja como for, a minha exigência é esta: “Parem Alqueva!”
Já nem me lembrava que na mesma Oficina de Escrita se fizeram pequenas histórias em que todas as palavras deviam começar com a mesma letra. A minha foi a letra V. Experimentem também, é um exercício velhaco mas divertido.
Vítor Valadas vendia vitualhas variadas, visitando vastuosas vilórias. Viajava vagarosamente. Vagabundeando. Vadiando. Velocípede vagaroso, vontade vulgar, várias vezes Vítor Valadas vagava. Velhos, velhas, vítimas venenosas, velhacas, vituperavam: vendilhão vagaroso! Vítor, varado, vociferou vivaz: Vivalma verá Vítor Valadas vagar. Viu Vespa, vendeu velocípede. Viajarei veloz, voarei! — vaticinou. Vínico vareio. Vrruuummm, Vruuuum!! Vítor Valadas, veloz, vitorioso, varreu veementemente vinte vilórias. Vitimou velhos. Vaiou velhas. Vade-retro vilão, vendilhão velhaco! — vilipendiavam-no. Vrrruuuummm, vrrruuummmmmm!!! Vítor Valadas viajava veloz. Vencedor. Vitorioso. Vira-face violento! Vítor Valadas vislumbrou vagamente vaca. Virou. Vadeou. Vala viripotente venceu. Vespa volatilizou-se. Vítor voou verdadeiramente. Verdade, verdadinha!
luis ene // 09:24
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terça-feira, março 18, 2003:
pequenas histórias
Existem provérbios para todos os gostos e para todas as ocasiões. Isso é um bom anexim, ouvi um dia de um amigo brasileiro, para meu grande espanto: O que disse? Guaxinim?
Recordo aqui dois provérbios (ou dois anexins) e espero ser fiel aos originais: é já proverbial a minha tendência para o erro em matéria de citações.
A mulher e a sardinha quer-se muito pequenina
Homem pequenino, velhaco ou dançarino.
E, já agora, invento um:
Uma história muito pequena vale bem uma centena
Pois é, small is beautiful!
Isto só para dizer que adoro pequenas histórias, seja qual for a forma: zen, provérbio, aforismo, fábula, poema...
Isto só para dizer que vou continuar a escrever pequenas histórias: de momento não posso assumir, por assim dizer, a responsabilidade numérica de mil e uma, mas posso ir sempre escrevendo, mostrando e dedicando mais uma.
mais uma (à Sue)
Ele sentia-se tão feliz que desejou morrer, até pensou em suicídio, mas no final optou por matá-la. Na verdade, pouca diferença fazia, pois só a morte preserva o amor, bastando que um dos amantes fique vivo para durar para sempre.
mais uma (ao Alexandre)
Quando o velho filósofo encontrou finalmente a excitante Filosofia, nem teve tempo de pensar que ela era mulher de mais para ele. Caiu imediatamente redondo no chão, a cabeça vazia e um sorriso nos lábios. Digam lá que maior prazer se pode esperar da filosofia?
mais uma (ao Renan)
Os fãs são verdadeiros canibais, disse o antropólogo no jornal da noite. Todos os telespectadores concordaram, mas nenhum o entendeu. Assim vai o mundo, e não há dicionário que nos valha! [Fãs - s. m. pl., África, povo bantu, da África ocidental, de costumes canibais.]
mais uma (à Heloisa)
Um estudo científico americano revelado ontem conclui, sem margem para dúvidas, que Esopo, a quem eram atribuídas as fábulas mais lidas do mundo, afinal nunca existiu. Desenvolvido nos últimos cinco anos, o estudo assenta em milhares de entrevistas realizadas no país e envolveu centenas de especialistas. No mesmo dia, na cidade de Pittsburgh, foi pela primeira vez reclamada a autoria das fábulas antes ditas de Esopo. As pretensões apresentadas são hoje mais de mil e com tendência a aumentar nos próximos dias.
E fiquemos por aqui, agora!
A terminar, esta citação do Eça de Queirós, guardada para uma ocasião especial.
Positivamente, contar histórias é uma das mais belas ocupações humanas: e a Grécia assim o compreendeu, divinizando Homero, que não era mais que um sublime contador de contos da carochinha. Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem: só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo
Bis! Bis!
Positivamente, contar histórias é uma das mais belas ocupações humanas: e a Grécia assim o compreendeu, divinizando Homero, que não era mais que um sublime contador de contos da carochinha. Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem: só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo
luis ene // 10:15
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domingo, março 16, 2003:
escritores
livros
Existem maus escritores? Stephen King garante que sim; há escritores maus, competentes, bons e excepcionais, por ordem crescente de importância e decrescente de quantidade.
Li por estes dias um texto do Dennis do Caderno Mágico com o sugestivo título de “Quem escreve é escritor! / Quem escreve é escritor?”. Aqui fica, por dois motivos, um bocado dessa prosa deliciosa, para vos abrir o apetite e porque não poderia vir mais a propósito.
Se observarmos a "tintura-mãe" da Literatura, descobriremos que nela há dois grupos bem distintos de escritores: o primeiro é formado pelos realmente vocacionados, aqueles que escrevem porque têm a cabeça povoada de idéias, sonhos, anseios de exprimir sentimentos; o segundo grupo é o dos oportunistas, composto por pessoas que se utilizam da Literatura como alicerce para o exercício de suas vaidades e ambições pessoais.
É e não é a mesma questão.
A maior parte das vezes sinto que escrevo mal, ou seja, sempre que penso nisso! Mas talvez se escreva sempre contra a língua (no meu caso também contra a gramática, a sintaxe e a pontuação) e essa seja a grande dificuldade para quem escreve e para o que se escreve. O que podem dizer as palavras? O que podemos dizer com as palavras? Eu diria que apenas podemos sugerir! O que não fica escrito talvez possa, no entanto, ser lido!
Existem maus livros? Ontem li que sim, existem tão maus livros que até há um livro que é o mais sério candidato a pior romance português do ano.
Quem foi que disse que os livros (e quem os escreve) valem principalmente pelo que ousaram e falharam? É por este motivo que às vezes tenho simpatia pelos meus textos, tão feios mas tão bons rapazes!
Os livros, como as pessoas (e aqui se incluem os escritores) são o que são, e o que me parece importante é, exactamente, que ousem ser o que são. Como se vêem e como são vistos, isso é outra história.
Está ao alcance de todos ler o que se gosta, mas (aprendi com Borges) escreve-se apenas o que se pode.
— Existem maus escritores?
— Existem escritores.
— Existem maus livros?
— Existem livros.
— É tudo o que tens a dizer?
— …
— …
— Felizmente existem leitores!
luis ene // 12:36
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